VISÃO GERAL |
A região do Recôncavo
Baiano, cuja denominação tradicional remete diretamente ao seu papel de
periferia da capital e ao seu formato em torno da Baía de Todos os Santos,
manteve uma função abastecedora de Salvador e a sua condição hegemônica,
em relação ao interior da Bahia até algumas' décadas, quando sucedeu o
inexorável declínio das suas bases produtivas, face aos baixos preços do
mercado internacional para as mercadorias que exportava, a obsolescência
tecnológica das suas unidades transformadoras e a concorrência no mercado
do açúcar e do fumo de outros países e regiões do Brasil. Em paralelo a esse
processo, que transformou o Recôncavo em uma região decadente,
caracterizada na literatura econômica como "região velha" , dois outros
fatores concorrentes no tempo deram contornos dramáticos à perda de
posição regional no contexto estadual: a descoberta, exploração e
esgotamento dos poços de petróleo da PETROBRÁS no período entre 1940 e
1980, com sua ilusória explosão de prosperidade e rápido declínio; e a
implantação do sistema rodoviário do Estado, com o traçado das principais
vias‑tronco privilegiando outras áreas próximas a capital na função
articuladora com o pólo dinâmico do Sudeste do Brasil, substituindo com
vantagens a modalidade fluvial‑marítima e sua articulação com a ferrovia
no trecho Salvador‑Nazaré das Farinhas, Jequié. A implantação da
industria dinâmica na Região Metropolitana de Salvador, em torno das
cidades de Camaçari (Pólo Petroquímico) e de Simões Filho (Centro
Industrial de Aratu), proporcionou as condições para o desenvolvimento de
um pólo urbano‑industrial de elevado poder germinativo na área de
influência direta da capital baiana, fazendo convergir para a sua
periferia milhares de pessoas oriundas de outras áreas, e em específico
dos municípios do Recôncavo, reduzindo ainda mais as suas possibilidades
de recuperação econômica, face ao esvaziamento das antigas cidades e das
suas zonas rurais. A construção de rodovias como as BR's 116, 324 e 101, na
mesma medida em que possibilitou o surgimento de novas cidades e a
consolidação/expansão de núcleos antigos como Feira de Santana, Jequié,
Vitória da Conquista e Itabuna, abriu caminho para a desagregação do
sistema funcional‑urbano do Recôncavo, com as sedes do espaço dominado
pela monocultura do açúcar (Santo Amaro, Cachoeira, São Félix) capturadas
pela influência de Feira de Santana; as vinculadas a exploração do
petróleo passando ao domínio direto de Salvador e de Alagoinhas, e as
cidades fumageiras e do Vale do Jequiriçá deslocando‑se para órbita de
Santo Antônio de Jesus, no eixo da BR‑101‑sistema ferry boat, sob a
influência compartilhada de Valença, Gandú e mesmo Jequié, via Jaguaquara,
nas articulações das BR‑101 e BR‑116. Assim caracterizada na
atualidade, a Região Econômica do Recôncavo, Sul apresentase,
portanto, como um espaço de interação de áreas de influência urbana
distintas, resultantes da conformação do sistema rodoviário estadual e da
superposição dos efeitos atracionais das novas atividades produtivas
centralizadas na RMS, em Feira de Santana e nas zonas policultoras de
Valença e Santo Antônio de Jesus, configurando‑se esta última sede como um
pólo regional em formação, graças á sua condição locacional na BR 101,
embora de alcance limitado devido ao forte poder atrativo de grandes
cidades como Salvador, Feira de Santana, Jequié, e Itabuna sobre os
municípios componentes da área em estudo, e secundariamente por sedes com
potencial de negócios menor ou equivalente ao seu; a exemplo de Valença e
Gandú, na BR101, e Jaguaquara, na confluência das BR's 116 e 420. O Recôncavo Sul está
localizado entre 12° 23' e 13° 24 de latitude Sul e 38° 38' e 40° 10' de
longitude Oeste, o que lhe confere características de clima tropical. Com
área de 10.015 km (1,7% do Estado), essa região congrega 33 municípios,
liderados, de acordo com a classificação elaborada pelo IBGE, por um
Centro Sub‑Regional Santo Antônio de Jesus, tendo como Centros de Zona as
cidades de Amargosa, Mutuípe, Cruz das Almas, Cachoeira‑ São Félix, Castro
Alves e Santo Amaro. A população total da região do Recôncavo Sul, segundo
dados do IBGE, em 1995, era de 633.331 habitantes, o correspondente a 5,3%
do total do Estado. A sua taxa de urbanização estava em torno de 52% no
mesmo ano, o que confirma o estágio de estagnação em que vivem as sedes da
região, com índices demográficos abaixo da média estadual. O surgimento dessa região
econômica, com o sentido característico de uma área homogênea com
identidade produtiva e cultural própria, está associada à implantação das
BR's 101 e 116, que possibilitaram a aproximação política entre os
municípios e a estruturação de um sistema de cidades com flinções
definidas no contexto regional, integrados pela centralidade de Santo
Antônio de Jesus e pelo destino comum de uma área tradicional decadente em
busca das suas novas vocações econômicas. O Recôncavo Sul, em
termos naturais, apresenta uma relativa homogeneidade de fatores fisicos
como clima, solo, relevo, regime fluviométrico e pluviométrico, dentre
outros, o que lhe confere um conjunto de características específicas de
ambiente tropical, desde as áreas planálticas a Oeste até as planícies
flúvio‑marinhas a leste. A maior parte dos solos
da região é do grupo Latossolo e Podzólico, de baixa fertilidade,
utilizados para a pecuária extensiva (que ocupa 52,5% das terras) e para o
cultivo de citrus, da cana‑de‑açúcar e da mandioca.A pluviosidade entre
1.100 e 2.000 mm de chuvas anuais, a temperatura acima de 18°C e o relevo
basicamente modelado em tabuleiros facilitaram o estabelecimento dessas
atividades. As terras do atual
município de Santo Antônio de Jesus foram ocupadas entre os séculos XVII e
XVIII, no rastro da colonização do Vale do Rio Jaguaripe. Mais que a
lavoura de cana‑de‑açúcar, como aconteceu no restante do Recôncavo, o
plantio da mandioca foi o fator predominante de fixação da população e de
elevação da vila à município, criado em 29 de maio de 1880, dele
desmembrando‑se posteriormente São Miguel das Matas, em 1891, e Varzedo,
em 1989. Como geralmente ocorre
com as regiões velhas, tradicionais, que se consolidam em épocas
anteriores e apresentam pouco dinamismo no presente, há forte descompasso
entre os indicadores de crescimento populacional e de urbanização no
conjunto dos municípios do Recôncavo Sul, sendo Santo Antonio de Jesus a
única sede que apresenta, ao mesmo tempo, taxa de incremento demográfico
positivo e elevado índice de urbanização, vinculados aos seus próprios
atos de dinamismo. Com 72 mil habitantes em
1996, dos quais 60.378 na zona urbana ( 28.276 homens), (32.102 mulheres),
Santo Antônio de Jesus é a 15` cidade da Bahia. O seu crescimento
demográfico, o mais intenso do Recôncavo Sul, resulta do dinamismo
comercial e dos serviços polarizados pela sede municipal no eixo da
BR‑101, em posição estratégica de acesso a Feira de Santana, Jequié,
Valença, Vale do Jiquiriçá e cidades do Sul da Bahia, através e rodovias
como a BR‑420, a BR‑116 e outras vias secundarias de sentido
OesteLeste. 0 sistema ferry‑boat possibilita um vínculo comercial
direto e privilegiado com A influência desse pólo regional se dá quase de forma exclusiva sobre as sedes de Varzedo, Dom Macedo Costa, Ubaíra, Laje, Jiquiriçá, Santa Inês, Cravolândia, Amargosa, Elísio Medrado, Cabaceiras do Paraguaçu, Conceição do Almeida, Governador Mangabeira, Muritiba, Mutuípe, Nova Itarana, São Felipe, Brejões, São Miguel das Matas, Cruz das Almas e Sapeaçu. |